Quase dois anos depois de bater o recorde de 13,7% no primeiro trimestre de 2017, a taxa de desemprego caiu apenas dois pontos percentuais, para 11,7% no trimestre encerrado em outubro, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A desocupação passou a diminuir mais lentamente em 2018 e, na avaliação de economistas, levará ainda um bom tempo para chegar a um dígito, ainda que o crescimento econômico se acelere nos próximos anos.
A média das estimativas de 26 consultorias e instituições financeiras aponta que a taxa de desemprego deve ficar, em média, em 11,5% em 2019, caindo para 10,6% em 2020. Ao fim de cada ano, a taxa prevista é de 10,7% e 10%. Algumas das projeções apontam uma taxa ligeiramente abaixo de 10% (entre 9,6% e 9,9%) no próximo ano. Em 2018, a média até outubro é de 12,4%. Em 2017, foi de 12,7%.
No atribulado 2018, fatores que emperraram o crescimento da economia – como a greve dos caminhoneiros em maio – também esvaziaram a criação de empregos. As estimativas para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) deste ano, que no fim de 2017 alcançavam 3%, foram seguidamente revistas até chegar ao atual 1,3%. No mercado de trabalho, além da menor geração de vagas, boa parte delas foi no setor informal. Analistas acreditam que este deve ser o padrão em 2019.
“Ainda temos muita informalidade e pouca geração de trabalho formal”, afirma Bruno Ottoni, do Ibre-FGV. Ele aponta que a reforma trabalhista, que poderia estimular a geração de vagas, ainda tem pontos a serem resolvidos pelo Congresso. Sem isso, a insegurança jurídica pode travar as contratações por meio das novas formas previstas, como o trabalho parcial e o intermitente. Para Renan Pieri, da EESP-FGV, há uma tendência de melhora do mercado de trabalho, mas ainda puxada pelo informal. “Se houver reforma da Previdência, a confiança aumentará e a criação de emprego formal poderá ser acelerada”, diz.
Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, quase 40% da população ocupada, 92,9 milhões de pessoas, no trimestre até outubro estava na informalidade. São trabalhadores do setor privado sem carteira (11,6 milhões), domésticos também sem carteira (4,45 milhões), trabalhador por conta própria sem CNPJ (19 milhões) e, ainda, 919 mil empregadores informais, sem CNPJ. O número de trabalhadores do setor privado com carteira assinada era de 32,9 milhões, 380 mil a menos que no mesmo período do ano passado.
Os números do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) mostram um cenário melhor para o emprego formal, com um saldo positivo de 444,4 mil empregos nos 12 meses até outubro, mas ainda bem aquém de compensar os quase 3 milhões de empregos formais perdidos entre 2015 e 2017.
João Saboia, da UFRJ, lembra que no melhor ano (2010) foram criados 2,6 milhões de empregos formais. Naquele momento, o PIB brasileiro cresceu 7%. Isso dá a dimensão do desafio. “Seriam necessários quatro anos seguidos com 7% de crescimento ao ano para criar 10 milhões de vagas”, diz. Este, a propósito, é o número de empregos citado como meta por Carlos Alexandre Da Costa, que integra o núcleo de economistas reunidos por Paulo Guedes, futuro ministro da Economia.
Para Sergio Firpo, professor do Insper, a taxa de desemprego permanecerá alta. “Esta crise foi muito longa e muito profunda. Colocou para fora do mercado trabalhadores que, depois de um tempo, terão dificuldade de voltar. Ou irão para a inatividade ou para o desemprego”, considera. Mudanças estruturais na economia também vão contribuir para essa taxa mais alta, em sua visão. “Há mudanças tecnológicas acontecendo que são poupadoras de mão de obra. As empresas estão aprendendo a trabalhar com menos gente”.
As informações são de Valor Econômico.
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