Segundo a última pesquisa Pnad Contínua, divulgada em abril pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o desemprego para quem tem entre 18 e 24 anos foi de 28,8% no 1º trimestre, acima da média geral, de 13,7%. Os números assustam e obrigam os mais novos a pensar em alternativas para driblar a crise que acertou em cheio a geração.
É o caso da jornalista de São Bernardo Amanda Guilhen, 21 anos. Ela se formou no fim do ano passado e agora está em busca de uma oportunidade efetiva. Assim que notou que as vagas na área em que tinha estagiado por cerca de três anos estavam escassas, resolveu investir em cursos para complementar o currículo, mas o esforço ainda não surtiu efeito. “Estou morrendo de medo do futuro. Pode ser pessimismo meu, mas acho que na profissão que escolhi o cenário é ainda pior. Por enquanto, meu receio é não conseguir emprego, mas tenho uma lista de colegas que, mesmo empregados, sentem que estão trabalhando muito e recebendo pouco e têm medo de nunca conseguir chance melhor.”
A publicitária de São Caetano Millena Pedrosa, 24, chegou a sentir angústia semelhante a de Amanda. Formada em 2015, foram poucas as empresas que a chamaram para uma conversa. A saída encontrada foi um intercâmbio para a Austrália, onde atualmente estuda gestão de projetos. “Eu acho que está sendo uma ótima experiência, não só em termos de educação, mas também para o desenvolvimento pessoal. Acho que é algo bem visto pela a maioria dos empregadores, principalmente os internacionais, que buscam trabalhadores com boa comunicação em inglês”, diz. Apesar do investimento na carreira, o temor quanto à volta ao Brasil, que deve acontecer em outubro, existe. “Sinceramente, me sinto um pouco incerta em relação ao futuro, mas acho que minhas chances de ingressar no mercado de trabalho aumentarão”, completa.
“Antigamente os jovens tardavam a entrada no mercado, porque faziam a opção pelo estudo. Agora, com a situação econômica do País, esse núcleo viu que precisa se inserir. Hoje, porém, temos quantidade de vagas menor para todo mundo, ainda mais para essas pessoas que ainda estão em formação. Os jovens alegam que as empresas exigem experiência que eles não possuem e isso pode ser uma barreira”, explica o coordenador da área de inteligência de mercado do Vagas.com, Rafael Urbano.
Para tentar superar a dificuldade da falta de vivência profissional, Urbano aconselha investir em qualificação como Amanda tem feito, visando melhor capacitação técnica e networking. “Se o jovem não tiver dinheiro, existem diversas plataformas que disponibilizam cursos gratuitos e isso vai de encontro às necessidades desse candidato.”
Trabalho voluntário pode ser um caminho interessante para abrir futuras portas e exercitar aspectos comportamentais, muito valorizados pelos empregadores. “Vale pensar que hoje o que faz diferença na seleção além da parte técnica são os aspectos comportamentais. Seja dando seguimento aos estudos ou realizando trabalhos sem remuneração, o que a pessoa não pode fazer de jeito nenhum é ficar parada apenas procurando emprego. Ela tem de estar em movimento, pois isso é um diferencial na hora da seleção”, diz o coordenador.
Paciência e foco – Ter em mente a importância de dar um passo de cada vez também pode se mostrar a chave do sucesso. De acordo com Marcelo Dantas da Fonseca, diretor da MDF Associados, empresa de Santo André especializada em recursos humanos, muitos jovens não querem “começar de baixo”, pensamento que pode ser extremamente equivocado. “Às vezes eles não querem emprego em rede de fast food, por exemplo. Já desejam começar em outro cargo, mas é essencial lembrar que ao atuar como atendente se aprende algumas competências que se carrega para vida inteira, como liderança e trabalho em equipe.”
Ainda na avaliação de Fonseca, muitas famílias desestimulam os filhos ao ingressar no mercado, dificultando, ainda que sem querer, sua futura vida profissional. “Vemos que existem muitos pais que aconselham a só estudar, mas com isso eles esquecem das competências que os filhos só vão adquirir estando no mercado. Importante dizer também que algumas empresas não contratam aqueles que chegam nas entrevistas acompanhados pelos pais. Não pega bem.”
Voando alto – Passar uma temporada fora do País se atualizando e investindo em uma segunda língua, como optou Millena, pode ser de fato de grande valia para a carreira. Segundo os especialistas, intercâmbios são vistos com bons olhos tanto pela fluência do idioma – hoje essencial – quanto pela vivência que se adquire por meio da experiência.
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